Está saldado o prémio Nobel

Hoje é um dia histórico. Não só para Cuba e Estados Unidos da América (EUA), mas para todos aqueles que continuam a lutar contra o capitalismo e a favor da soberania de um povo. Hoje é o dia em que Cuba e EUA reatam oficialmente as relações diplomáticas, através da abertura das respetivas embaixadas nos dois países.

Raúl Castro mostra a vontade e a abertura que o seu irmão, toldado por décadas de luta, nunca teve. Barack Obama, por seu turno, deixa para trás as visões mesquinhas de sucessivos presidentes e a intolerância punidora de uma política de dominância mundial contra regimes que não entende. À sombra do ódio que se instalou entre estes dois países, fomentado acima de tudo pelos seus líderes, surgiu a opressão, a pobreza e as privações e cresceram famílias divididas.

As feridas serão com certeza profundas, e muitas ainda por sarar. E será preciso muito trabalho e várias décadas para amenizar 53 anos de costas voltadas. Esperemos que os líderes atuais tenham a sabedoria e a sensibilidade para dar continuidade a esta reconciliação, há muito ansiada pelos próprios e pelo mundo. O passo agora necessário é o levantamento do embargo económico, que fustiga os cubanos há mais de cinco décadas e os atira para uma pobreza impiedosa. Um embargo unilateral, a que o resto do mundo fechou os olhos durante todo este tempo. A administração de Barack Obama fez o mais difícil, que foi dar o primeiro passo. Vamos ver se o Congresso norte-americano tem a inteligência e a boa vontade necessárias para não boicotar este processo histórico.

Importa também realçar o papel de duas outras pessoas neste processo. John Kerry, o secretário de estado norte-americano, que não só no caso de Cuba, mas também em várias outras matérias, de que se destaca o programa nuclear iraniano, tem demonstrado uma diplomacia externa firme mas respeitadora, num nível muito acima dos seus antecessores. E o Papa Francisco, um homem surpreendente, que mediou e impulsionou o diálogo entre os dois países, contribuindo, de forma discreta e humilde, para pôr fim ao “silêncio recíproco”, uma expressão usada pelo próprio.

Após o reatar das relações com Cuba e as negociações do programa nuclear do Irão, Barack Obama torna-se finalmente merecedor do prémio Nobel da Paz, que lhe foi atribuído em 2009, logo no seu primeiro ano de mandato como presidente dos EUA. Muita gente se interrogou na altura o que teria feito Obama para ter direito a tamanha distinção. Afinal, percebe-se agora que o galardão foi atribuído a crédito, num acontecimento inédito, em tudo semelhante aos negócios em futuros, que arruinaram a economia mundial e cuja fatura estamos ainda a pagar. Parabéns pelos feitos, Sr. Obama, e já agora pelo prémio.

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