Mais um exemplo de solidariedade europeia

Portugal aceitou receber 1500 refugiados do Mediterrâneo. Bruxelas tinha proposto 2400.

Somos um dos países de menores dimensões geográficas da Europa. E um dos que atravessa uma das piores situações económico-financeiras, onde muitos empobreceram e onde o nível de vida recuou vinte anos. Ainda assim, estamos disponíveis para partilhar a nossa pobreza com quem é ainda mais pobre do que nós. Pessoas que fogem da guerra, do medo, da miséria e da falta de esperança. Cidadãos do mundo, que voltam as costas à morte nos seus países e viajam lado a lado com ela na travessia de um mar de sonho, ou de um inferno de almas perdidas. Por muito menos, tantos portugueses, e tantos outros cidadãos de todas as nacionalidades, emigraram e continuam a emigrar.

E o que fazem países como a França, a Alemanha e o Reino Unido – esses gigantes, ocupados em ditar os destinos de todos os outros povos da Europa, que escolhem a política económica universal e a moeda que vigora em cada país, que fazem por derrubar governos contrários às suas aspirações e que castigam quem ousa querer ser independente? Fecham as suas fronteiras. Recusam-se a receber uma parte dos refugiados que diariamente dão à costa em Itália e na Grécia, apesar de terem muito mais condições do que estes países. Fazem ouvidos de mercador às orientações da União Europeia, não sem antes mostrarem nos media uma compaixão hipócrita, só para europeu ver. E deixam cadáveres, vivos e mortos, a amontoarem-se no cemitério do Mediterrâneo. É isto a solidariedade europeia. Não aquela que os fundadores sonharam, mas a de uma Europa que se afunda sob o peso de meia dúzia de políticos totalitários, imperialistas e individualistas.

E porque não chamar também os Estados Unidos da América à sua responsabilidade, de uma vez por todas, e fazê-los acolher uma parte destes migrantes – a maior parte? Esse país, tão abençoado por Deus nas bocas dos seus presidentes, raramente soube o que era enfrentar uma guerra travada no seu próprio território, uma vez que sempre teve a esperteza de brincar aos jogos bélicos nos territórios dos outros. Afinal, de onde vem tanto migrante? Maioritariamente da Síria. E o que aconteceu nessa região do Médio Oriente? Caiu num vazio de poder, após as invasões e as nobres missões de democratização encabeçadas pelos EUA, sob a cumplicidade passiva da ONU. Isto após as guerras do Iraque e do Afeganistão, que serviram para despoletar tensões e desequilíbrios há muito latentes nas sociedades daqueles países e gerar uma espiral de extremismo, primeiro com os talibãs e agora com o autodenominado Estado Islâmico (como se os primeiros fossem pouco radicais e sanguinários).

A Europa está a levar com os estilhaços das guerrinhas dos Estados Unidos. E os barões europeus  porque só são grandes perante os pequenos da Europa, mas não têm coragem de impor nada aos EUA, nem as suas próprias responsabilidades –, descartam-se do seu voto de solidariedade e assinam a condenação de milhares de pessoas.

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