Sondagens há muitas

Na última semana temos sido bombardeados diariamente com “sondagens”. Não é por acaso que escrevo a palavra entre aspas. Apesar de os media lhes darem um ar de sondagens (escudando-se ocasionalmente em ressalvas de serem tracking polls, com metodologia diferente, mas constantemente deixando escapar a palavra e a intenção que lhe querem dar), não se lhes pode chamar o que não são. Do pouco que aprendi sobre estatística, sei a importância de uma boa amostra representativa. E não me parece que seiscentas e tal pessoas, das quais 2% do Alentejo (ou seja, cerca de 12 alentejanos), e que possuem telefone fixo sejam um retrato fidedigno da população portuguesa que permita extrapolar seja o que for.

A indústria das sondagens tem conhecido tempos muito pouco auspiciosos ultimamente. O declínio tem vindo a instalar-se há vários anos e atingiu o nadir com as eleições britânicas em Maio deste ano – prevendo-se um empate técnico entre Conservadores e Trabalhistas, que afinal deu em maioria absoluta para os primeiros – e o referendo grego em Julho – outro empate técnico derrotado por uma clara vitória do não ao pacote de austeridade proposto pelos credores.

São várias as razões apontadas para tais falhanços. Uma delas é a falta de meios, incluindo financeiros, com que as empresas de sondagens se debatem. Ou seja, a crise também afeta as sondagens. E isso é uma condicionante transversal ao longo dos anos nas sondagens portuguesas. Seja qual for a razão, não deve ser aceite para legitimar a divulgação de resultados que não traduzem fielmente as intenções de voto dos eleitores. Porque enganam os cidadãos. E sobretudo porque podem influenciar o verdadeiro resultado eleitoral: eleitores de esquerda podem deixar de votar no BE ou no PCP para dar um voto útil ao PS ou, pelo contrário, vendo que o PS pode não ganhar, poderão querer fortalecer forças mais à esquerda no parlamento; e os centristas indecisos poderão decidir votar no PàF ou no PS consoante aquele que estiver à frente nas tracking polls. Por esta razão, sou de opinião que não deviam ser publicadas quaisquer sondagens, barómetros ou similares durante as semanas da campanha eleitoral. E muito menos, em qualquer altura, devem ser divulgadas sondagens que não aplicam metodologias adequadas. Não se compreende como de dia para dia mudam tanto as percentagens das “estimativas eleitorais”, de tal forma que em uma semana o PàF subiu de 35 para cerca de 40%, ao passo que a sondagem da SIC e do Expresso colocam o PS à frente com 36%. Tem de ser incentivado o rigor e o serviço público e não o despejar de números vazios diariamente para ganhar mais pontos nas audiências.

Nestas eleições legislativas, as sondagens deverão acertar num resultado: não haverá maioria absoluta, nem do PàF nem do PS. De resto, a ver vamos se as sondagens serão uma das derrotadas no dia 4 de Outubro. 

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