Retrato de uma ministra maquilhada

A Antena 1 noticiou que a ministra das Finanças e candidata à Assembleia pela coligação PSD/CDS, deu instruções à Parvalorem, empresa pública que arcou com os ativos tóxicos do BPN, para que maquilhasse as suas contas e fabricasse um prejuízo menor. O caso remonta a 2012, altura em que Maria Luís Albuquerque era secretária de Estado. Tudo para poder exibir perante os portugueses e a União Europeia um défice menos feio. O resultado foi menos 157 milhões de euros de prejuízo e um défice 0,1% mais baixo.

Vamo-nos habituando ao constante martelar das contas para fazer parecer que o que está péssimo não está tão mau assim. Acabámos de o ver com a revisão em alta do défice de 2014 devido à inclusão do prejuízo do Novo Banco, mas dizem que não faz mal porque foi no ano passado… É possível que as dívidas contraídas em 2014 se tenham esfumado nas doze badaladas do início de 2015? Muitas famílias e empresas portuguesas gostariam de acreditar que sim, mas não têm essa sorte. Será a indústria da cosmética de números uma das principais atividades económicas deste Governo (e arriscaria a dizer de muitos outros governos dentro e fora de portas)? Ou será que tudo isto se resume numa palavra bem mais crua e desprovida de qualquer maquilhagem – fraude?

O que está em causa não são meros números. É a mentira. Aos portugueses e à Europa. Vinda de quem não hesitou em apontar o dedo à Grécia e ao seu envio de contas falsificadas para Bruxelas. Independentemente de ser prática corrente ou não nas contabilidades, pressionar uma empresa ou instituição para falsificar o seu prejuízo é algo que um membro de um governo não pode fazer. É uma questão de princípios. De honestidade. De lealdade para com o povo que o elegeu e o país que representa. Mesmo quando dá jeito iludir a União Europeia. Por isso mesmo, embora André Macedo, diretor do Diário de Notícias (DN), seja uma pessoa que me merece grande consideração, não posso concordar com a opinião que publicou no DN de ontem, 30 de Setembro.

Maria Luís Albuquerque é o rosto dos números e da austeridade que se seguiu a Vítor Gaspar neste Governo. Pelos vistos, um rosto que usa e abusa da maquilhagem. E foi também um rosto frequentemente emoldurado pela mentira e dissimulação. Começou pouco depois de tomar posse como ministra em 2013 com o escândalo dos ‘swaps’. E não podemos esquecer a airosa resolução encontrada para o BES em 2014, que jurou não trazer custos para os contribuintes, o que só recentemente veio desmentir. De engodo em engodo, sempre com a mão do Governo por baixo. Resta saber que mais escondeu esta senhora e o seu Governo. E quais serão os reais défices de 2012 a 2015. Vale a pena recuperar e reformular a pergunta de Paulo Portas: em quem confia mais, Maria Luís Albuquerque, Ricardo Salgado, ou José Oliveira e Costa? A resposta não é fácil.

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