O Europeu do Ano

Que orgulho que eu senti ao ver Portugal e os portugueses receberem o prémio “Europeu do Ano” 2015. Um troféu atribuído por alemães, esses senhores e senhoras que tanto bem nos têm feito, e que nos distinguiu pelo nosso êxito na conclusão do programa da troika.

Que linda que foi a cerimónia. Até me vieram as lágrimas aos olhos ao pensar nos bravos que engrossaram as fileiras do desemprego, nos altruístas que de bom grado cederam grande parte dos seus salários e pensões e abdicaram do 14º mês, dos abnegados que não hesitaram em suportar um aumento colossal de impostos, nos aventureiros que emigraram para não mais sobrecarregar o nosso lindo país. Ficámos mais pobres e de rastos, pois então, mas só na provação se revelam os verdadeiros merecedores de um galardão assim. Foram muito generosos, aqueles senhores da associação alemã de editores e publicações. Os alemães são de facto um povo extraordinário, que sabe pôr nações de joelhos e de seguida esmagá-las com o peso de galardões que os instruíram para merecer. E são tão nossos amigos que até nos querem ajudar a escolher o rumo do nosso próximo governo – um que continue a trabalhar para “manter uma estabilidade” política, económica e financeira, “sem oscilações”. Sim, porque parece que andam pelo nosso país uns papões canhotos que se portam mal e depois não têm direito a prémio dos simpáticos senhores alemães, porque eles não gostam nada quando não fazem o que eles dizem. Eu não sei, nunca vi, mas diz que alguns desses papões são vermelhos e até comem criancinhas!

Mas voltando ao prémio. Lá estava o nosso garboso Rui Machete, que tão bem tem defendido Portugal que até quiseram que ele continuasse como ministro dos Negócios Estrangeiros. Foi um regalo vê-lo a receber a estatueta. Estava tão bonito! Parecia um anjinho, igual ao do troféu. E que bem que falou! Muito contente, disse que Portugal cumpriu as suas obrigações e que o galardão traz uma grande responsabilidade para o país, prometendo continuar a portar-se bem. E mostrou muita humildade, ajoelhando-se ainda mais numa acentuada vénia, dizendo que os portugueses ajudaram a “Alemanha a justificar o seu papel de liderança”. É bonito ver que são todos tão amiguinhos! Mas não se esqueceu dos seus heróis portuguesitos, de quem destacou a “coragem, determinação e espírito de sacrifício”. E enalteceu a língua portuguesa. Tudo isto falando alemão!

Que orgulho que foi para Portugal! Na nossa singela pobreza franciscana, ainda conseguimos aguentar a graça de um prémio que apouca os nossos sacrifícios e menospreza o que Portugal perdeu nestes três anos de troika. E vindo como uma dádiva de quem mais nos humilha. Maior do que a pobreza do nosso país é a pobreza de espírito dos nossos governantes. Tivessem eles a grandeza de recusar tal distinção, como o seu povo teve a grandeza de suportar tamanha provação.

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