São 35 mas não são para todos

São 35 mas nas são para todos. Para os do privado de certeza que não são. E mesmo para os do Estado, são só para alguns. É ‘pró menino e ‘prá menina, mas só para alguns meninos e algumas meninas. São as 35 horas semanais de trabalho, que para a função pública sabe a reconquista, mas para muitos traz o sabor amargo da desigualdade.

Os trabalhadores do Estado viram o seu horário de trabalho aumentar das 35 para as 40 horas semanais durante o vendaval trokiano, que varreu o país nos últimos anos. Este aumento da carga horária não veio acompanhado de qualquer compensação, salarial ou através de dias de descanso. Este aumento da carga horária significou portanto uma real perda de salário. A reposição das 35 horas para a função pública é, por isso, mais do que justa.

O que é profundamente injusto, e incompreensível, é que nem todos os funcionários do Estado venham a beneficiar desta medida, já que os trabalhadores com contrato individual de trabalho não serão contemplados. Haverá então a trabalhar lado a lado pessoas que diariamente saem uma hora mais cedo do que outras, sem que as últimas tenham qualquer compensação salarial em relação às primeiras. Esta desigualdade entre colegas, que até podem ter funções e qualificações iguais, irá gerar mal-estar no ambiente de trabalho, que poderá não ser fácil de gerir.

Por outro lado, e apesar de os trabalhares do setor privado não terem sofrido a mesma perda por força de um aumento compulsivo do horário de trabalho, as 35 horas semanais para todos são um garante de igualdade de condições. A maior disponibilidade de tempo para a família e amigos, ou para qualquer outra atividade recreativa ou útil para a sociedade, deve ser um privilégio de todos os cidadãos e não apenas de quem tem um contrato com o Estado. E sobretudo numa altura em que ainda são pedidos sacrifícios orçamentais a todos os portugueses, não se compreende que se tenha de aumentar a despesa para acomodar esta medida para uns trabalhadores em detrimento de outros.

As diferenças entre trabalhadores do público e do privado, que tantas discórdias alimentaram no passado, têm de acabar. Deve haver tendencialmente uma aproximação entre os dois setores. Porque somos todos cidadãos do mesmo Estado. E as 35 horas seriam uma excelente oportunidade para começar.

Etiquetas: , , ,