Ninguém sabe o que fazer ao Novo Banco

Longa vai a saga do Novo Banco. E ninguém lhe vê sina de terminar. Vender, liquidar, nacionalizar – todas as opções são más e todas estão em cima da mesa, incluindo o que já se disse que jamais se faria. A questão é deveras complexa, mas resume-se com uma simplicidade chocante e indesmentível: o Novo Banco é tão mau que ninguém sabe como se livrar dele. O mais fácil mesmo é passar a fatura aos mesmos de sempre: os contribuintes portugueses.

O BES/Novo Banco arrasta-se moribundo desde Agosto de 2013. Vítima de doença prolongada, ainda não tinha arrefecido o lugar da troika em Portugal e já o banco dava o seu último suspiro. Entretanto, mudou de nome, mudou de cara, mas não mudou o problema. Todos os portugueses enterraram naquele buraco 4,9 mil milhões de euros para resolver o banco. Mas a questão está longe de estar resolvida e o buraco parece cada vez mais fundo.

É o Banco de Portugal (BdP) que conduz este carrossel. Inicialmente, nomeou Vítor Bento como presidente executivo do BES, após o afastamento de Ricardo Salgado. Bento era de opinião de que não havia pressa em vender o banco, advogando endireitá-lo em três a cinco anos para conseguir vendê-lo melhor. Porém, na altura, o governo PSD/CDS e o BdP tinham muita pressa, quiçá devido a haver eleições legislativas dentro de um ano. Por isso, Vítor Bento acabou afastado e o seu lugar foi ocupado por Stock da Cunha, uma das promessas da Lloyd’s. A primeira tentativa de venda, em Setembro de 2015, foi suspensa porque as (poucas) propostas eram insatisfatórias. E Stock da Cunha acabou por regressar a Londres em Julho de 2016 sem ter cumprido o objetivo de vender o banco. A coisa estava tão difícil que Carlos Costa decidiu contratar Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes, em Dezembro de 2015, para se incumbir da venda do Novo Banco. E a tarefa devia ser mesmo complicada, pois deu direito ao ex-governante a um salário de mais de 25 mil euros mensais. Bem podiam ser 25 milhões: nem Sérgio Monteiro nem ninguém parece ser capaz de despachar o Novo Banco por mais do que um valor irrisório. O Novo Banco é tão mau que ninguém quer pegar-lhe, a menos que o Estado pague para vender. Surreal? Sim, mas é este o mundo da finança. Há quem pague para pedir dinheiro, há quem pague para emprestar dinheiro e a Lone Star quer que os portugueses lhe paguem para ficar com o Novo Banco. Quando o único risco que se corre é obter lucro, é fácil investir. Se este é o candidato mais bem posicionado, como diz o BdP, é melhor nem saber o que propõem os outros para não nos sentirmos vexados, como diz Carlos César.

Dar garantias pelo Novo Banco significa infalivelmente que os contribuintes vão pagá-las. Os últimos anos estão cheios de tais exemplos, bastando para isso recuar até 2015 e ao caso Banif. E tal despesa fará inevitavelmente disparar o défice, numa altura em que o governo e o país anseiam finalmente pela libertação do procedimento por défice excessivo. O BdP, responsável por conduzir o dossiê do Novo Banco, arrastou o processo, gastou mais de 27 milhões de euros em serviços de consultoria, para agora enviar ao executivo uma solução que ultrapassa a linha vermelha de não onerar mais o Estado. O BdP não sabe vender bancos, não é essa a sua competência. Mas isso não surpreende: foi incapaz de supervisionar, foi incapaz de prevenir e é incapaz de solucionar. O que surpreende é o facto de Carlos Costa ainda ser governador do Banco de Portugal.

Desde o início que há quem defenda a nacionalização do Novo Banco. Bloquistas e comunistas foram coerentes nesta proposta desde sempre. E agora, percebendo que não há saída satisfatória possível, até personalidades da direita defendem essa solução, pelo menos temporariamente. E é aqui que surge o fantasma do BPN. Os portugueses, que já são experientes nesta coisa de salvar bancos, sabem que o Novo Banco, vendido ou nacionalizado, será um buraco negro, ávido sugador de todo o dinheiro que para lá escapar.

Pergunto: onde está o dinheiro da família Espírito Santo e demais acionistas, que devia estar a remendar o buraco que deixaram? Poderá não ser suficiente, mas com certeza não será pouco, e ajudaria a reduzir a fatura. Quase três anos volvidos, nenhum dos responsáveis ainda foi sequer acusado. Mas os contribuintes portugueses já foram e continuam a ser condenados.

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