Crónica de uma semana a cores

O mundo não é a preto e branco. As pessoas não são simplesmente boas nem simplesmente más. Em toda a parte há um paraíso belo que convive com uma realidade feia e sórdida. Só aprendendo isso podemos dizer que somos adultos.

Esta semana foi cheia. Cheia de acontecimentos cheios de significado, que encheram as notícias e as redes sociais. Mas alguns esvaziaram-nos. Não que nos tenham deixado sem nada, mas limparam-nos da soberba do primeiro mundo, onde nada nos atinge. Supostamente. Esse esvaziamento e o repensar das prioridades não é necessariamente mau. O que é mau é viver com medo. E em nome do medo entregar a Liberdade.

Sim, tenho medo. Quem não tem? Temos todos medo que alguém atropele pessoas -  que poderão ter feito coisas boas ou más, mas que são apenas familiares e amigos de outras pessoas. Temos medo que alguém esfaqueie polícias. Temos medo que nos ataquem nos nossos locais de trabalho ou de passeio, nos nossos transportes, nas nossas vidas.

Mas também sinto ofensa e injustiça. Quando os sacrifícios dos portugueses, ou de qualquer outro povo, são achincalhados e reduzidos a menos de uma boémia por alguém despeitado por uma valente tareia numas eleições. Alguém que, apesar da dureza que tem defendido para os países do Eurogrupo, se diz socialista. E desrespeita o socialismo finalmente adotado por um país que quer ser diferente e que mostra que afinal há alternativa. Um país que alternativamente conquista o défice mais baixo da sua democracia.

Democracia… E com ela Igualdade, Solidariedade e Liberdade. Neste 25 de Março tenta-se recordar os valores que fundam o projeto europeu. Sem reconhecer que a Europa não é a preto e branco e que estes valores já pouco fazem parte dela. Mais do que uma comemoração dos 60 anos do Tratado de Roma, este devia ser um momento de reflexão e de redefinição. Para que não haja mais vazios, ofensas ou injustiças.

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